O contínuo das espécies e quando elas se encontram em "Os Banshees de Inisherin"
DOI:
https://doi.org/10.34640/ct10uma2025fernandesPalavras-chave:
alteridade significativa, cinema e filosofia, filosofia da biologia, relações multiespécieResumo
Neste artigo, discute-se, em três momentos, o binômio humanidade-animalidade, tendo por base, inicialmente, a noção agambeniana de “máquina antropológica” com o objetivo de situar a perspectiva de análise adotada na compreensão de que o ser humano tem sido forjado por meio de incessantes separações entre a humanidade e a animalidade. Em um segundo momento, abre-se espaço para reflexões que buscam compreender e superar a ideia da pretensa excepcionalidade humana diante das demais formas de vida, uma vez que as relações de exploração que a humanidade tem estabelecido com o meio ambiente fundam-se, exatamente, nesta falácia. Em um terceiro momento, pensa-se de que forma e, em que medida, tais problematizações acerca do binômio humanidade-animalidade podem ser exemplificadas, ou mesmo ampliadas, a partir do filme Os Banshees de Inisherin. O filme em questão foi tomado como um artefato cultural com potencial para sustentar reflexões sobre as relações humanas com o meio ambiente, em geral, e com espécies companheiras, em particular. A análise da presença animal no referido filme, especialmente na figura da jumentinha Jenny, revela como os vínculos entre humanos e animais não humanos ultrapassam os limites da convivência utilitária, expondo mundos compostos por afetos, histórias e co-existências éticas.
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