Cinema & Território

Editorial | A Direção da C&T

António Baía Reis — 2023-12-04

Künstlerische Forschung und Nachhaltigkeit

Christiane Brohl — 2023-12-04

Das Thema “kulturelles Erbe und Nachhaltigkeit” des “World Summit of Arts Education in Funchal.Madeira.Portugal” im März 2023 gab den Impuls, ein künstlerisches Forschungsprojekt “4 questions about nature” vor Ort zu entwickeln, um Beziehungen zwischen persönlichen Orten, Natur und Nachhaltigkeit aufdecken zu können. Die ortsbezogene künstlerische Forschungsmethode des Displacements, des In-Beziehung-Setzens von unterschiedlichen Positionen zu einem Thema wie Nachhaltigkeit, ermöglicht es, divergente Aspekte auch ungewöhnlich assoziativ miteinander zu vernetzen, um neue Perspektiven aufzeigen zu können. Mit Michel Foucault (1967) wird der Raum als ein Netzwerk verstanden, welches aus vielen Orten besteht. Orte stehen in Beziehung zueinander und erhalten neben ihrer physischen auch eine diskursive Bedeutung durch Geschichten, welche Menschen an Orten erleben und über Orte erzählen. Mit dem Forschungsprojekt wurden diese Geschichten erkundet, indem zehn Menschen interviewt wurden. Das Besondere an diesen Interviews war, dass die Antworten zu einer Art Ortskarte aus Schrift und Bild skizziert wurden. Derart sind zehn ortsbezogene Karten entstanden, welche nach ihrem Lesen zu einer “Landkarte der Beziehungen zwischen persönlichen Orten–Natur–Nachhaltigkeit” als künstlerisches Ergebnis der Erforschung transformiert wurden. Mit dem künstlerischen Forschungsprojekt wird die bislang vernachlässigte kulturelle Dimension von Nachhaltigkeit mit dem Motiv aufgezeigt, das Drei-Säulen-Modell (Ökolologie, Ökonomie, Soziales) von Nachhaltigkeit um die kulturelle Dimension [...].

A memória, o lugar e a busca de um território inclusivo no documentário autobiográfico de uma PCD e artista audiovisual brasileira

Adriano Medeiros da Rocha — 2023-12-04

Neste artigo trata-se de um relato de experiência sobre a pesquisa e o trabalho efetivado pela realizadora audiovisual brasileira Cíntia Soares para a constituição do seu documentário Elos: traduzindo o intraduzível (2022). Na obra (auto)biográfica, ela promove interseções entre sua experiência subjetiva, enquanto pessoa com deficiência (PCD) e contextos sociais e históricos mais amplos, ligados diretamente a um passado de preconceitos e silenciamentos. Neste sentido, a jovem cineasta latino-americana busca explorar um distinto território por intermédio do fazer cinematográfico e da sensível possibilidade de expressão permitida por esta linguagem. A partir de uma perspectiva singular e da própria poética fílmica construída, esta protagonista reflete sobre conceitos como memória e lugar, permitindo-se romper limites e promover travessias em busca de almejados novos territórios e de diferenciadas possibilidades artísticas e expressivas ligadas ao afeto e à inclusão.

Autobiografia, desenraizamento e errância: Jonas Mekas em "Reminiscências de uma Viagem à Lituânia"

Mónica Baptista — 2023-12-04

O presente artigo foca-se na análise de Reminiscências de uma Viagem à Lituânia (1972) e na forma como Jonas Mekas aprofunda a autobiografia em cinema através das ideias de errância e desenraizamento. Estes conceitos têm com mote a viagem do realizador à terra natal, após anos de emigração nos Estados Unidos. A voice over, as derivações espaciais pelas suas memórias e lugares completam-se numa estrutura fílmica, que apela a um modo de ver e filmar o que é “pessoal”, que vai além do que convencionalmente tomamos como diarístico e autobiográfico.

Filme de família: cinema, memórias e identidades

Irislane Mendes Pereira — 2023-12-04

No curta-metragem A gente se encontra aos domingos (2021), dirigido pela própria autora, histórias ordinárias são atravessadas por questões sociais, relações familiares e lugares; características comuns ao cinema brasileiro. Em um diálogo intimista, em que as esferas privada e pública são interseccionadas, relatos de experiências cinematográficas se unem às memórias pessoais e coletivas, enquadrando lembranças constituintes da família da própria diretora. O artigo intenciona dialogar, através dos discursos presentes no curta-metragem, com a noção de “lugares de memória”, do historiador Pierre Nora (1993), juntamente com a articulação da teoria do “espaço e lugar na perspectiva da experiência”, do geógrafo Yi-Fu Tuan, (1983), passando pela “partilha do sensível”, de Jacques Rancière (2005), para desaguar nos fragmentos da infância de Walter Benjamin (1987) e na relação entre memória e identidade, de Joël Candau (2011).

A poética (auto) documental de Patrício Gúzman

Elis Crokidakis Castro — 2023-12-04

Ao mergulhar em 3 filmes de Patricio Guzmán, A Nostalgia da Luz (2010), O Botão de Nácar (2015) e A Cordilheira dos Sonhos (2019) refletiremos sobre sua forma de contar a história do Chile e principalmente sua própria história, fazendo com que seus filmes sejam mais que um álbum de família do Chile, mas um álbum pessoal do cineasta configurando sua criação como uma espécie de documentário autobiográfico. Nosso objetivo perpassa pelas análises das imagens trazidas pelo cineasta que serão por nós estudadas quanto a sua inovação singular que constrói a sua poética trazendo para sua narrativa elementos que sugerem que seus filmes além de históricos, também são autobiográficos.

E a memória vos libertará: o lugar da memória visto no documentário "Democracia em Vertigem"

Leonardo Simões — 2023-12-04

Democracia em Vertigem (2019), dirigido por Petra Costa, é um documentário em primeira pessoa que traçou a relação dela com o Brasil, com a memória de sua família e a conexão desses pontos com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, e a ascensão de Jair Bolsonaro. Para amparar o papel da autobiografia, a diretora explorou algumas noções de lugar e memória trabalhados por Pierre Nora, além de ideias sobre o esquecimento desenvolvidas por Marc Augé e Paul Ricoeur. Esses temas orbitam em torno de conceitos cinematográficos de Bill Nichols e André Bazin. O artigo, portanto, vai observar como Petra trabalhou tais pontos para elucidar o passado, o presente e o futuro do Brasil.

Prefácio

António Baía Reis — 2023-12-04

Hinamizawa em "Quando as cigarras choram" (2006-2007): lugar, comunidade e afeto

Adriana Lemos — 2023-12-04

Quando as cigarras choram (2006-2021) é uma série de animação japonesa derivada de uma franquia de videogames e publicações em mangá. A animação traz a história de Rika Furude, uma sacerdotisa que, por cem anos, tenta evitar seu próprio assassinato na localidade de Hinamizawa. Para desvendar o mistério, ela precisa dos amigos e da comunidade, que a acolhem e a aceitam. Utiliza-se como metodologia a revisão de bibliografia a respeito de topofrenia e psicologia social sob o ponto de vista de Edith Stein. Este texto trata da localidade onde os eventos ocorrem e de como a constituição de laços e de uma rede de apoio são capazes de fazer com que uma história de tragédia se transforme em uma ode ao espírito de comunidade de Hinamizawa.

"O Presidente Improvável" (2022): o legado do presidente Fernando Henrique Cardoso

Cristiane Pimentel Neder — 2023-12-04

O documentário O Presidente Improvável (Franca, 2022) conta-nos como o cientista social Fernando Henrique Cardoso chegou ao poder. Um dos presidentes brasileiros que foi reeleito e que equilibrou a economia nacional com o Plano Real. Seu legado se mistura ao da democracia brasileira, estando presente nos principais eventos que derrubaram a ditadura militar. Com depoimentos de grandes pensadores, amigos de vida e amigos políticos de expressão internacional, o documentário mostra como um intelectual ascendeu ao poder de forma não intencional. Com direção de Belisário Franca é uma obra que nos dá a dimensão da trajetória de um grande estadista, que se divide entre seguir a carreira acadêmica ou a política, ou as duas ao mesmo tempo, entre viver no exílio ou voltar para ajudar na redemocratização do país. Analisamos, neste texto, o percurso político de FHC.

Frances e Julie: o protagonismo feminino no cinema e as questões da mulher contemporânea

Maria Fernanda Cavassani — 2023-12-04

A temática feminina tem se tornado recorrente no cinema, neste artigo, a partir da comparação de duas obras cinematográficas, Frances Ha (2012) e A Pior Pessoa do Mundo (2021), são propostas reflexões sobre uma fase transitória (e um pouco confusa) da vida da mulher contemporânea: quando não se é mais jovem, mas ainda não se alcançou a maturidade esperada – e por vezes – cobrada. Enquanto percurso metodológico, foi utilizada a proposta de Cândida Vilares Gancho (2006) para análise de narrativa e a de Francis Vanoye e Anne GoliotLété (2012) para análise fílmica. Como contribuições teóricas, partimos de quatro campos conceituais fundamentais para as análises: Walter Benjamin (1994), explicando narrativa; Mikhail Bakhtin, a partir de Julia Kristeva (2012), com o conceito de intertextualidade, Jacques Aumont (1995) sobre cinema e Simone de Beauvoir (2012) para as percepções do feminino. Após a análise comparativa, foi possível chegar a algumas conclusões que apontam para narrativas cinematográficas que retratam protagonistas questionadoras em relação às demandas sociais impostas às mulheres. Frances e Julie, apesar das dificuldades, buscam uma existência que lhes seja favorável, de acordo com suas visões de mundo e escolhas individuais que nem sempre condizem com o imperativo social.

Biografia de rua: a relação das pessoas em situação de sem-abrigo com os seus objetos pessoais

Lara Fagundes — 2023-12-04

O convívio e a proximidade com as pessoas em situação de sem-abrigo residentes no Centro de Acolhimento Emergência Municipal (CAEM) de Santa Bárbara, na freguesia de Arroios, em Lisboa, nos possibilitou perceber que este grupo vulnerável (social, financeira e psicologicamente), marginalizados e excluídos socialmente, têm em comum relações de valor simbólico significativo com seus objetos pessoais. Com o objetivo de estudar a história social das coisas que eles carregam, os seus significados e a estrutura das trajetórias dessas relações sociais, bem como a construção de valores e significados, este estudo pretende entrevistar um grupo de residentes e registar através da imagem os seus objetos pessoais, a fim de desenvolver uma exposição que nos permita investigar o sentido dos objetos no interior da história de vida desses indivíduos. Por meio de entrevistas semi-estruturadas e registo fotográfico, queremos contar traços da biografia de pessoas em situação de sem-abrigo e dos seus objetos, para atuar como um estudo que aproxima a comunidade académica a este grupo social e promove reflexões sobre as ligações singulares e simbólicas com as coisas materiais.

A Terra como Acontecimento II

Romy Castro — 2023-12-04

O projecto artístico e geofilosófico “A Terra como Acontecimento” na sua vertente cinematográfica opera uma problematização da relação à Terra e à natureza. Trata-se de um projeto transdisciplinar que, pela sua essência, leva à aparição de novas imagens da Terra, questionando a noção de território, historicamente e etologicamente marcada. Sente-se crescentemente que a lógica territorial que captura a terra está a chegar a um momento crítico, de que a crise climática e a entrada no Antropoceno são um indício importante. No filme “A Terra como Acontecimento II” pelo seu uso das matérias, pela transdução das artes que desenvolve, opera uma desterritorialização acentuando a deslocalização das matérias e interrogando-as na sua originalidade quase pré-humana. Apenas o cinema tem a capacidade de desterritorializar a lógica das fronteiras históricas, sem reterritorialização ilusória. A aparição da terra na sua elementaridade tal como o cinema lhe dá lugar sem a dominar, cruzada com frases também elas nomádicas, que pontuam o vídeo, abre possibilidades políticas para o pensar da relação com a Terra e a comunidade dos que nela habitam. Está em causa uma expressão criativa que pretende intervir e dar visibilidade a outras possibilidades do habitar da Terra. [...].

Pensar a Dança além da forma… Relato (auto)biográfico de um percurso artístico

Teresa Norton Dias — 2023-12-04

Pensar a Dança além da forma… é outra maneira de dizer: pensar o(a)s bailarino(a)s além da forma como dançam. Neste espaço proponho-me abordar a autobiografia como um processo de catarse sobre vivências que oscilam entre 1974 e 2023, durante aproximadamente meio século. Aproveitando o momento que atravesso, inspirada pelo percurso de Walter Benjamin, bem patente na obra Diários de Viagem (2022) em que nos é dado a conhecer o processo de escrita no exílio, entre e durante guerras, através de textos que relatam as vivências desse período e onde não faltaram conversas com Bertolt Brecht, parti para a reflexão. Passar à prática, em “estúdio” foi apenas mais um passo impulsionado pela vontade de desenhar uma vida através do movimento, utilizando o vídeo como registo. Este procedimento, diferente de um registo escrito pela possibilidade de captação imediata da imagem em movimento, proporciona-nos um olhar diferente e, com isso, uma nova visão sobre o trabalho em curso. Este fator tem, junto do ator (aquele que dança, que regista o processo e que depois observa e analisa) um valor e impacto diferente de um registo escrito por mais completo que seja. Neste processo acompanharam-me dois elementos sem formação em Dança, [...].