A donzela de marfim está aborrecida: dinâmicas femininas em mutação para a Galatea ovidiana em "Identificazione di una Donna" (1982) de Michelangelo Antonioni
DOI:
https://doi.org/10.34640/ct9uma2024diogoPalavras-chave:
mito de Pigmalião, Michelangelo Antonioni, Ovídio, emancipação femininaResumo
O mito de Pigmalião tal como contado por Ovídio deu origem a uma tradição literária que o cinema procurou cristalizar em filmes como Pygmalion et Galathée (Méliès, 1898), My Fair Lady (Cukor, 1964), etc. Neles, normalmente a heroína assume um papel submisso face ao herói. A mesma premissa pode ser encontrada, indirectamente, na obra Identificazione di una Donna (1982), de Antonioni, mas sob uma diferente roupagem. Em vez de adoptar uma postura submissa em relação a Niccolò, Mavi, a Galateia gerada ad hoc, é passiva, pois desinteressa-se do amor de Niccolò, o Pigmalião de serviço. Esta postura é característica do ennui das personagens femininas de Antonioni. Este artigo pretende um cruzamento literário entre as dramatis personae de Ovídio e as personagens Niccolò e Mavi de Antonioni, fornecendo uma análise aprofundada sobre a possibilidade de Mavi se poder tornar num símbolo de emancipação da donzela de marfim ovidiana em narrativas contemporâneas. Quando condicionada a um ambiente específico da Antiguidade, a donzela de marfim de Ovídio é obrigada a comportar-se de acordo com o que se espera dela - uma extensão afónica de Pigmalião. Inversamente, quando exposta aos media metaliterários contemporâneos, a donzela de marfim pode libertar-se, contrariando a taxonomia dominante masculina.
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